No dia do jornalista, OAB/RS faz um alerta sobre a violência contra os profissionais da área
06/04/2018 17:26h

Nosso calendário é recheado de datas comemorativas. Entretanto, precisamos ressalvar o aspecto comemorativo de alguns desses dias. Antes da celebração, algumas efemérides exigem, acima de qualquer outra coisa, uma pausa na rotina para respirar e refletir. Entre essas datas, de forma cultural e histórica, podemos citar o dia da mulher (8 de março) e o dia da consciência negra (20 de novembro). Os movimentos identitários, em busca de políticas públicas e igualdade, tornaram as causas mais visíveis com o passar do tempo – o que contorna o 8 de março e o 20 de novembro, datas que aliam a reflexão e a celebração.
Hoje, 7 de abril, é outra dessas tantas datas que precisamos dimensionar melhor. O dia escolhido para a comemoração do Dia do Jornalista foi instituído em 1931, por decisão da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). A escolha da data foi em homenagem ao médico e jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, morto por inimigos políticos em 1830. Badaró era defensor da liberdade de imprensa, e morreu em virtude de suas denúncias e de sua ideologia que contrariava os homens do poder.
A morte é o primeiro dos valores-notícia, segundo o teórico do jornalismo Nelson Traquina. De forma irônica, aqueles que têm a preocupação de informar ao público os fatos importantes do mundo, são assassinados na tentativa de cumprir sua rotina de trabalho. Tendo em vista que “a notoriedade do agente principal” é o segundo valor-notícia (também segundo Traquina), muito pouco recebemos informações sobre jornalistas mortos em serviço. Todavia, não são poucos os casos.
No mundo, apenas em 2017, 65 jornalistas morreram. Entre eles, 50 jornalistas profissionais, sete jornalistas independentes e oito colaboradores de meios de comunicação. As informações são do balanço anual da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
De todas as mortes - entre profissionais e não profissionais - em 2017, 39 foram assassinados ou alvos explícitos, enquanto 26 perderam a vida no exercício de suas funções. A Síria foi o país mais perigoso, com 12 jornalistas mortos.
Um estudo da Unesco, publicado em 2016, chamado "World Trends in Freedom of Expression and Media Development" ("Tendências mundiais em liberdade de expressão e desenvolvimento de mídia", em tradução livre), revela que, em média, um jornalista é assassinado a cada quatro dias em todo o mundo. Nos últimos 11 anos, foram 930 jornalistas mortos exercendo seu trabalho. O relatório destaca, ainda, que o Brasil é o sétimo país do mundo em número de jornalistas assassinados.
O presidente da OAB/RS, Ricardo Breier, assevera a importância do profissional de imprensa para a manutenção da sociedade: “Sabemos que a liberdade de imprensa é tolhida diariamente, seja por interesses escusos de grandes corporações ou por interesses políticos, da classe jornalística. O profissional do jornalismo é crucial e precisa ser aguerrido para transmitir aquilo que é essencial e o que mais falta ao Brasil em termo de combustível de transformação social: a informação.”
Deixa ela trabalhar
Essas são algumas das intempéries da profissão. Contudo, estão longe de ser as únicas. As mulheres conquistaram mais espaço no mercado jornalístico. Ainda assim, como em todos os outros setores, o tratamento dispensado ao homem jornalista e à mulher jornalista está longe de ser o mesmo.
Sabendo disso, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Gênero e Número realizaram uma pesquisa inédita no Brasil com o apoio do Google News Lab, para investigar os desafios enfrentados pelas mulheres no exercício da profissão jornalística.
Os resultados são assombrosos, mas não surpreendem. Confira alguns deles:
A pesquisa ressalta que ainda são registradas desigualdades salariais e ocupacionais significativas no jornalismo brasileiro: as mulheres tendem a receber salários menores e a ser excluídas dos cargos de maior prestígio e remuneração.
• 73% das jornalistas que responderam à pesquisa afirmam já ter escutado comentários ou piadas de natureza sexual sobre mulheres no seu ambiente de trabalho;
• 64% das jornalistas que responderam à pesquisa já sofreram abuso de poder ou autoridade de chefes ou fontes;
• 70% das jornalistas que responderam à pesquisa admitiram já terem recebido cantadas que as deixaram desconfortáveis no exercício da profissão.
“Os resultados da pesquisa mostram que há um longo caminho a percorrer para que a igualdade de gênero se estabeleça no jornalismo profissional. Algumas recomendações simples podem acelerar a transição para um período de justiça com todas as repórteres, editoras e trabalhadoras da imprensa brasileira”, afirma o relatório. Disponível aqui.
Algumas editorias, como a de esportes, é vista como ambiente masculino. As mulheres que trabalham no esporte sofrem assédios regulares. O que motivou a criação, no início deste ano, o manifesto “Deixa Ela Trabalhar”, encabeçado por 52 jornalistas que trabalham com a mídia esportiva. A iniciativa representa repórteres, assessoras e apresentadoras que sofrem com repetidos assédios morais e sexuais nos estádios do Brasil, nas ruas e nas redações.
Confira o vídeo da campanha abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=IbyIKrY_Wjw.
Refletir e celebrar
Apesar de incontáveis aspectos negativos, é preciso comemorar. As conquistas da profissão são muitas e a manutenção da profissão passa, invariavelmente, por um maior senso de colaboração e unidade. A credibilidade, fator basilar da profissão, precisa ser revisitada e reiterada por todos nós. Afinal, temos à disposição, de forma diária, milhares de notícias falsas.
Jornalistas, nesse 7 de abril, desejamos força e rigor para que possamos seguir esclarecendo, cada vez mais, com maior primazia questões de importância pública. Que nosso objetivo final seja sempre o de defender a democracia e a liberdade de todos os povos.
Sergio Trentini - Jornalista
06/04/2018 17:26h